quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Tejo e o Congresso Nacional da Cultura Avieira

Esta intervenção decorre da realização do I Congresso Nacional da Cultura Avieira realizado no passado dia 7, 8 e 9 de Maio, que encerrou os seus trabalhos no nosso município. Queria aproveitar para saudar este executivo na pessoa da Sra. Presidente, pelo facto de ter acolhido e apoiado este projecto, que muito me diz respeito pessoalmente, pois orgulho-me de ter participado em representação da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, no arranque deste congresso e na candidatura da Cultura Avieira a património nacional.

Este tema, tem continuidade no projecto em curso levado a cabo por este município em parceria com O PROTEJO, com a realização do WORKSHOP “Água e Rios”, no próximo mês.

Gostaria de partilhar convosco uma reflexão, que a meu ver é actual, pois enquadra-se na perfeição com estas duas iniciativas atrás descritas. Estou a falar das potencialidades e oportunidades que um município como o nosso, que tem o privilégio de ser banhado pelo rio Tejo.
O mesmo Tejo que une toda esta bacia de Espanha a Portugal, que une todas as populações ribeirinhas e as suas culturas, que o conhecemos e o vivemos da nascente até à foz, de Albarracín ao Grande Estuário.

O I Congresso Nacional da Cultura Avieira debateu a identidade e as características dos pescadores avieiros, o último grande movimento migratório português. A cultura dos pescadores avieiros vai ser elevada a património nacional, num projecto de recuperação de várias aldeias à beira-Tejo que prevê a criação de mais de 450 postos de trabalho. O objectivo é criar um novo destino turístico para o país, num conjunto de programas que estimam criar 127 postos de trabalho directos e de 350 a 360 indirectos.
Este destino turístico já está aprovado pelo PROVERE [Programas de Valorização Económica de Recursos Endógenos]. É um projecto de investimento que envolve 41 instituições e 59 projectos de investimento e prevê ligar pelo Tejo desde a Marina do Parque das Nações até Constância, sendo que o Tejo só é navegável até Valada.
O rio Tejo não é apenas água, é cultura viva, a essência e o escora, das terras e das aldeias por onde passa. É com grande felicidade que vejo juntar-se em defesa do Tejo diversos cidadãos e organizações, representativos de toda a bacia ibérica do Tejo e de todos os sectores da sociedade e áreas de acção, constituindo-se um exemplo independente de participação e cidadania neste projecto que é O PROTEJO.

O Tejo como futuro onde este laço de natureza e cultura perdure e se reforce com o regresso de modos de vida ligados à água e ao rio que as actividades de educação e turismo de natureza, cultural e ambiental permitirão sustentar, que economicamente esta relação seja entendida como um aprofundar de uma ligação estreita que tem que existir entre o homem e o rio, respeitando sempre sua sustentabilidade.

A preservação do rio Tejo é um tributo que os cidadãos devem oferecer a este património, sendo urgente assegurar que o caudal do Tejo seja o que era antigamente, acabar com a poluição que mata os peixes e envenena o ambiente e as pessoas, criar canais de passagem para os peixes nas barragens e nos açudes e acabar definitivamente com a pesca ilegal.

Todos conhecemos os males de que o Tejo padece com os transvases, com o assoreamento, com a poluição, ou seja, o maltrato que a mão do homem tem vindo a infligir à sua água e aos seus ecossistemas. Devemo-lo às gerações futuras para que conheçam um Tejo vivo, como nós o conhecemos, e não um servo do egoísmo e prisioneiro da especulação dos humanos.

Quanto ao objectivo inicial, permitam-me reflectir convosco da necessidade:

• De uma gestão sustentável da bacia hidrográfica do Tejo;
• Do cumprimento da Directiva Quadro da Água, ou seja, a garantia de um bom estado das águas do Tejo;
• Do estabelecimento e quantificação de um regime de caudais ambientais, diários, semanais e mensais, reflectidos nos Planos da Bacia Hidrológica do Tejo, que permitam o bom funcionamento dos ecossistemas ligados ao rio;
• Da concepção de um projecto com vista ao desassoreamento do rio Tejo e à sua navegabilidade;
• Da realização de acções para ajudar a restaurar o sistema fluvial natural e o seu ambiente;
• Da valorização e promoção da identidade cultural e social das populações ribeirinhas do Tejo e da preservação da sua memória colectiva;
• Do desenvolvimento de uma economia sustentável, que permita um usufruto por parte de todos, deste recurso hídrico.

Estes contributos não são mais do que reflexões, que permitem de uma forma participada, com os eleitos, com os jovens, nas escolas, com as associações, com as empresas, com todas as forças vivas do concelho, com todas e todos que queiram participar e partilhar o futuro do concelho numa ligação estreita com o rio Tejo, todas e todos na procura de um futuro mais sustentável, ou seja, social, económica e ambientalmente viável.

Luís Gomes, Vereador do Bloco de Esquerda

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