terça-feira, 26 de abril de 2011

25 Abril e 1º Maio



Nestes dois meses, os acontecimentos precipitaram-se, numa vertigem que nos faz muito pensar e acima de tudo, relembrar os direitos conquistados com o 25 Abril e anunciados nos valores do 1º Maio. Nestes 37 anos da madrugada libertadora do 25 de Abril, estamos colocados perante desafios que tocam os seus fundamentos.

Têm sido assim os últimos meses, em Portugal, na Europa e no mundo. Quem pressentiria a tempestade, não de areia mas de liberdade, gerada nos desertos do Norte de África de onde sopra o familiar vento suão? E a onda não parou: apesar de o povo líbio estar encurralado entre os tanques de Kadhafi e os mísseis da NATO, ela expande-se até à Síria, Iémen e Arábia Saudita, governadas por reis e déspotas petrolíferos, todos “bons amigos do Ocidente”.

Recentes são as ondas sísmicas e o tsunami japonês que abalaram o mundo, sobretudo pela catástrofe nuclear de Fukushima, cujo alcance ninguém hoje consegue medir.

Também o velho continente foi abalado por tempestades de outro tipo, que já colheram a Islândia, a Grécia, Irlanda e agora nos batem à porta. Mas não vão ficar por aqui. Não se trata de catástrofes naturais, mas provocadas pela ganância financeira num mundo desgovernado pelo neoliberalismo. A bolha especulativa da economia de casino estava programada para rebentar, como alertavam há mais de uma década vários prémios Nobel da economia.

Desde finais de 2008, os Estados cuja intervenção nos mercados foi diabolizada ao longo de décadas, injectaram triliões para salvar bancos cujos activos estavam ao nível do lixo, apesar de receberem notas elevadas das agências de rating. As mesmas ratazanas e os mesmos bancos que, a partir de 2010, lançaram a gigantesca operação especulativa contra as dívidas soberanas dos Estados que os salvaram. Eis o capitalismo neoliberal em todo o seu esplendor!

Na política doméstica, desde as Presidenciais a vida política entrou em carrossel: há um mês tínhamos “A censura ou o pântano”, a propósito da moção apresentada pelo Bloco, em 10 de Março. Mas quem ainda se lembra disso? A 11 de Março foi anunciado o PEC 4, já chumbado pelo parlamento; dia 12 foi a manifestação das “gerações à rasca”; sobreveio a demissão do governo, a dissolução da Assembleia, as eleições marcadas para 5 de Junho.

Mas a dura realidade é que o FMI está aí! E, ao contrário do que nos querem fazer crer, nem todos perdem com a sua chegada: os bancos, por exemplo, já sonham com o seu quinhão de liquidez dos 80 mil milhões de euros a baixo juro para subirem as taxas que impõem à economia produtiva e a dezenas de milhares de cidadãos ameaçados de despejo por já não conseguirem pagar a prestação da casa.

A grande questão hoje é: quem ganha e quem perde com o FMI? Quem paga a dívida externa e a enorme dívida social aos trabalhadores e aos dois milhões abaixo do limiar da pobreza? A esta pergunta crucial, só há duas respostas: a do bloco FMI e a alternativa de esquerda.

O primeiro é formado por todos os partidos que aprovaram os PEC’s e, assim, estenderam a passadeira ao FMI. Neste bloco, a coerência não é moeda corrente: Cavaco, o padrinho, alertava nas presidenciais contra “os cortes cegos” do FMI. Passos Coelho recusou o PEC 4 no parlamento mas, com as orelhas a arder perante Merkel, jurou fidelidade a este e aos PEC que se seguirem. Sócrates, entronizado no Congresso como “o querido líder” do PS, jurava “fazer tudo para evitar a vinda do FMI”, hoje declara-se o mais competente para governar com ele. Em rodapé, o CDS de Paulo Portas a mendigar os lugarzinhos num governo bi ou tripartido.

Nas eleições de 5 de Junho, não vale a pena nenhum destes partidos apresentar programas nem gastarmos um segundo a ouvir as suas promessas: o programa comum de todos eles não foi redigido em Portugal e tem apenas três letras: FMI.

À esquerda, a boa notícia é o diálogo aberto entre o Bloco e o PCP que deverá estender-se a outros sectores e personalidades, para construir um programa de governo alternativo, se os portugueses assim votarem, ou uma plataforma de resistência e luta nos duros tempos que virão. Para vencer agora e, sobretudo, para abrir caminhos de futuro.

Há alternativas em Portugal e na Europa, indiciadas no processo judicial contra as agências de rating, interposto pelo grupo de economistas encabeçado pelo professor José Reis. Não é caso inédito: a Islândia varreu do poder os políticos responsáveis pela crise, elegeu uma nova Constituinte e meteu os banqueiros corruptos na prisão. Mais ainda: recusa pagar a dívida aos bancos ingleses e aos agiotas que especulam sobre a dívida soberana.

Nestes ásperos tempos que vivemos, Abril é tempo de resistência que se desenha em Maio. Não só no Dia do Trabalhador, mas quando os trabalhadores e as famílias mais pobres são os principais visados de uma conjuntura económica sem consciência social.



Luís Gomes

Vereador da Câmara Municipal

2 comentários:

Anónimo disse...

Boas, queria felicitar os deputados do BE pela atenção que têm dado as colectividades do concelho, mas o apoio real tem sido muito pouco para além de umas parcas e breves palavras e mais pelo seu mérito, mas convém lembrar outros méritos e outras lutas que ainda faltam não só lembrar, mas também participar e ajudar a concretizar. Falo nomeadamente do tão desejado campo de futebol em Salvaterra, prometido e incluído no orçamento, mas que até a data nada de novo a não ser a colocação dos 200 e qualquer coisa mil € no orçamento, onde está a obra ou o seu começo, o seu planeamento??? mais uma vez parece que tudo vai ficar na gaveta e calou-se a boca as muitas pessoas, e aí posso também dizer que a Sra. Presidente falou dela em tempos mas já caiu em esquecimento, tal como o Sr. Nuno Antão que se pensava que seria o Salvador da pátria quando se aproximou de novo do clube, que ele já foi Presidente, onde estão as vossas perguntas ao excutivo da câmara, a A.M. e aos autarcas??? (de forma a esclarecer os Municipes) não aparecem, mas eu gostava como munícipe ser esclarecido sobre este assunto, pois estamos a chegar ao fim de uma época desportiva, onde parece que o Clube Desportivo SALVATERRENSE vai voltar ao escalão principal do futebol Distrital, e para variar como este ano que passou, no próximo também vai ser o unico clube a jogar num campo pelado com clubes como Torres Novas, Benavente, Ferróviarios, Tomar, etc... com campos(alguns até estádios que acolhem a nossa seleção e clubes da 1ªliga quando necessário) de relva natural e todos os outros com campos sintéticos, mais uma vez somos a ovelha negra e mostramos aos outros como somos medíocres. Alerto também a outra questão que é a forma como vão realizar as obras se elas forem em frente, recebam os dirigentes e vão ouvir as suas ópiniões antes das obras para não fazer maus investimentos e não construír da melhor maneira as infrastruturas como em Marinhais(com aquele dinheiro na minha ópinião dava para fazer muito mais e melhor, dando outras condições a jogadores e publico), peço a todos os Salvaterrenses que se unam em torno desta causa e se for preciso fazer uma concentração a porta da câmara ir lá sem receios de nada, nem de ninguém... um abraço e continuação de um bom trabalho em prol do nosso concelho, não escrevo mais para os outros visitantes poderem também dar uma ópinião e não escrever eu tudo... S.C.2011

Anónimo disse...

Já existem vários campos relvados no nosso concelho (Glória, Marinhais e Salvaterra (campo de fUtebol 7)), todos feitos com o dinheiro dos contribuintes. O desenvolvimento não pode ser só campos de bola.
E o povo pá...