terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dia Mundial de Luta contra a SIDA

O Dia Mundial de Luta contra a SIDA foi assinalado no passado dia 1 de Dezembro.

Quer pelos cortes no orçamento da saúde e nos apoios sociais quer pela vontade anunciada pela direita de acabar com a universalidade no acesso ao SNS, é de prever uma continuada irresponsabilidade acerca deste flagelo.
Sempre que se fala em SIDA, o discurso é garantir que nenhum portador da infecção fica sem tratamento, até porque essa é a melhor forma de interromper a progressão da infecção. Aliás, bom tratamento e boa adesão reduzem os custos quer em internamentos quer em medicamentos, para além do ganho mais importante: melhora o estado de saúde dos infectados.
O mais importante é reduzir o número de infectados: zero novos infectados como propõe a ONU/SIDA. Este objectivo exige mais investimento na informação e no esclarecimento da população, fazendo da prevenção o eixo do combate à epidemia. Em Portugal, este é ainda o principal défice.

Os mecanismos de contágio são mal conhecidos por muitos portugueses e por isso há muito contágio que podia ser evitado. Nestes quase trinta anos, aprendemos muita coisa sobre a SIDA e as consequências de certos comportamentos de risco.

A política de redução de danos assumida como estruturante da intervenção na área das drogas – e a que a direita sempre se opôs - reduziu significativamente o número de infectados por utilização de seringas contaminadas. É uma evolução muito positiva, exemplar no plano europeu.


Em sentido contrário, somos os piores na Europa quanto ao número de infecções entre heterossexuais. Não podia ser de outra maneira. Quando se pensa que um beijo, um aperto de mão ou um abraço podem contagiar, esse desconhecimento traduz-se em desprotecção nas situações de verdadeiro risco como é principalmente o caso das relações sexuais desprotegidas entre homens e mulheres com vários parceiros.

A direita tem impedido a educação sexual dos adolescentes e jovens na escola. A direita opõe-se à distribuição de preservativos nas escolas e locais de diversão mais frequentados pelos jovens. Não há alternativa ao preservativo. A direita é, assim, responsável política e moralmente por muitas infecções que se podiam ter evitado.

E hoje o risco de contágio é muito grande porque se generalizou a ideia de que a SIDA tem cura. E não tem. Vive-se com a infecção e a doença muitos anos, mas não tem cura. A SIDA tornou-se uma doença crónica. É uma extraordinária vitória da medicina, da investigação. Mas é uma vitória que, por ignorância, imprudência ou excesso de confiança, pode ser a derrota de muitos que, por não se prevenirem, ficam sujeitos ao contágio por via sexual.


Muitos dos infectados vivem em situação de marcada exclusão social, o que dificulta a adesão ao tratamento. Para muitos o acesso ao SNS e ao tratamento é um primeiro passo para a inclusão. Mas, sem apoios sociais a inclusão é uma miragem e sem inclusão não há tratamento que resulte. O corte imposto pelo governo nos apoios sociais é mais um obstáculo à recuperação e tratamento dos doentes com SIDA.



Outro obstáculo é discriminação de que estes doentes são alvo sobretudo nos locais de trabalho e por parte dos patrões. A discriminação empurra muitos infectados pelo SIDA para a clandestinização da sua situação, o que inclui afastarem-se do tratamento. O combate à discriminação deve continuar a ser uma prioridade.



Veremos no futuro como o governo vai responder, com a certeza que estaremos sempre presentes para relembrar que existem vítimas da irresponsabilidade política.

Luís Gomes
Salvaterra de Magos, 7 de Dezembro de 2011

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