No passado dia 5 de Junho houve uma viragem histórica em Portugal, e eu estou do lado perdedor. Há quem tenha razões para festejar: dominam o país, venceram as presidenciais e têm maioria para governar. Na disputa pela liderança do campo que apoia o programa do FMI, a direita esmagou o PS. O Bloco teve um mau resultado eleitoral, regressando a patamares de 2005. Ao longo destes anos, fizemos muitos inimigos poderosos e quem espera condescendência dos adversários, engana-se. Quem toca o bombo não nos impressiona, discutiremos sempre resultados, o nosso trabalho, a forma de desenvolver raízes sociais e movimentos populares para uma alternativa.
O resultado destas eleições reflecte uma brusca mudança de ciclo político. Essa mudança não aconteceu no dia 5, mas sim no pedido da intervenção externa. Esse pedido criou um consenso em grande parte do país, baseado na mentira mil vezes repetida: estamos na bancarrota, o Estado não tem dinheiro para pagar salários, a intervenção é uma ajuda, o plano de austeridade é inevitável. Este consenso comprimiu o espaço da alternativa: a esquerda fala bem mas não paga a conta a descoberto. A bancarrota é sempre uma chantagem política sobre o povo, essa chantagem não é nova na história e a esquerda paga sempre o seu efeito.
O Bloco paga mais porque tem pouco voto “fixo” e tem de conquistar permanentemente o seu espaço político: não garante que aguenta - pode avançar, pode recuar. Somos essa disputa por mais esquerda, para mudar a esquerda.
Apesar de o BE, na minha opinião, ter conduzido, do ponto de vista do discurso político, uma das melhores campanhas políticas eleitorais da sua curta história (prepositiva, pedagógica, realista, contida), isso não foi suficiente para conter a vaga do voto na suposta “segurança” e no mal menor. E por aí perdemos votos. A gravidade e extensão catastrófica da presente crise empurraram o voto do eleitorado popular flutuante para o refúgio aparente da “segurança” e da “protecção” da direita e dos seus tutores externos da Troika. A impopularidade imensa de Sócrates e do governo PS fez o resto.
Neste quadro, houve opções controversas do BE que desagradaram a eleitores de 2009, e tomaram outras opções. O apoio à candidatura de Manuel Alegre expôs os riscos de uma opção necessária, não havia outro candidato para enfrentar Cavaco Silva numa segunda volta. A moção de censura a José Sócrates quando se previa a escalada da austeridade foi coerente com opções semelhantes feitas pelo Bloco no passado, mas surgiu para muita gente, pela forma da sua apresentação e pelos acontecimentos posteriores, como mera manobra táctica. A recusa em simular negociações com o FMI foi talvez o mais grave incidente de percurso do Bloco nos últimos meses.
As razões apresentadas não esgotam uma reflexão necessária. O contexto político exigirá do BE que se supere em defesa das pessoas, do trabalho com direitos, dos salários, das pensões e dos direitos. Com o PS umbilicalmente ligado às medidas da troika, o Bloco será esse rosto, tanto mais que o debate sobre a necessidade da auditoria à dívida e da sua renegociação para proteger salários e pensões, será uma luta muito presente.
Mesmo nesta situação excepcionalmente difícil e complexa, o BE tem raízes que esta tempestade não quebrou nem romperá. É agora altura de luta. Com uma certeza. Nos duros combates que se avizinham, nas difíceis condições que temos pela frente, os trabalhadores, os jovens, os desempregados, os pensionistas, os precários, sabem onde nos encontrar: na primeira linha, dentro e fora do parlamento, a defender os seus direitos, a combater a barbárie neoliberal, a batalhar pelo socialismo.
Luís Gomes
Salvaterra de Magos, 15 de Junho de 2011
O resultado destas eleições reflecte uma brusca mudança de ciclo político. Essa mudança não aconteceu no dia 5, mas sim no pedido da intervenção externa. Esse pedido criou um consenso em grande parte do país, baseado na mentira mil vezes repetida: estamos na bancarrota, o Estado não tem dinheiro para pagar salários, a intervenção é uma ajuda, o plano de austeridade é inevitável. Este consenso comprimiu o espaço da alternativa: a esquerda fala bem mas não paga a conta a descoberto. A bancarrota é sempre uma chantagem política sobre o povo, essa chantagem não é nova na história e a esquerda paga sempre o seu efeito.
O Bloco paga mais porque tem pouco voto “fixo” e tem de conquistar permanentemente o seu espaço político: não garante que aguenta - pode avançar, pode recuar. Somos essa disputa por mais esquerda, para mudar a esquerda.
Apesar de o BE, na minha opinião, ter conduzido, do ponto de vista do discurso político, uma das melhores campanhas políticas eleitorais da sua curta história (prepositiva, pedagógica, realista, contida), isso não foi suficiente para conter a vaga do voto na suposta “segurança” e no mal menor. E por aí perdemos votos. A gravidade e extensão catastrófica da presente crise empurraram o voto do eleitorado popular flutuante para o refúgio aparente da “segurança” e da “protecção” da direita e dos seus tutores externos da Troika. A impopularidade imensa de Sócrates e do governo PS fez o resto.
Neste quadro, houve opções controversas do BE que desagradaram a eleitores de 2009, e tomaram outras opções. O apoio à candidatura de Manuel Alegre expôs os riscos de uma opção necessária, não havia outro candidato para enfrentar Cavaco Silva numa segunda volta. A moção de censura a José Sócrates quando se previa a escalada da austeridade foi coerente com opções semelhantes feitas pelo Bloco no passado, mas surgiu para muita gente, pela forma da sua apresentação e pelos acontecimentos posteriores, como mera manobra táctica. A recusa em simular negociações com o FMI foi talvez o mais grave incidente de percurso do Bloco nos últimos meses.
As razões apresentadas não esgotam uma reflexão necessária. O contexto político exigirá do BE que se supere em defesa das pessoas, do trabalho com direitos, dos salários, das pensões e dos direitos. Com o PS umbilicalmente ligado às medidas da troika, o Bloco será esse rosto, tanto mais que o debate sobre a necessidade da auditoria à dívida e da sua renegociação para proteger salários e pensões, será uma luta muito presente.
Mesmo nesta situação excepcionalmente difícil e complexa, o BE tem raízes que esta tempestade não quebrou nem romperá. É agora altura de luta. Com uma certeza. Nos duros combates que se avizinham, nas difíceis condições que temos pela frente, os trabalhadores, os jovens, os desempregados, os pensionistas, os precários, sabem onde nos encontrar: na primeira linha, dentro e fora do parlamento, a defender os seus direitos, a combater a barbárie neoliberal, a batalhar pelo socialismo.
Luís Gomes
Salvaterra de Magos, 15 de Junho de 2011
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