O ano que agora terminou não deixou saudade e marcará a história do nosso povo. Um ano em que se viveu debaixo da catadupa das medidas de austeridade, em que os direitos foram esmagados pela doutrina do “vivemos acima das possibilidades” e o empobrecimento se tornou regra para a maioria.
2011 é o ano do ajuste de contas com o 25 de Abril, o ajuste de contas com o mundo do trabalho. O ano em que a culpa foi apontada à esquerda. Aquilo que em 5 de Junho parecia uma solução e uma saída, rapidamente se transformou numa amarga realidade e cada vez fica mais claro que não está em causa a “saída da crise” mas sim destruir tudo aquilo que constitui o nosso património democrático: a alteração das leis laborais, a destruição do serviço nacional de saúde, do transporte público colectivo, a diminuição dos salários e do poder de compra, o roubo nas SCUT, a venda dos anéis que restavam com a concretização do milionário negócio para a China com a aquisição da parte detida pelo Estado na EDP, a imoral lei do arrendamento e até o direito universal de acesso à televisão está em causa com o chamado “apagão analógico”, símbolo da insensibilidade social e do desprezo pelo interior do país, marca indisfarçavelmente, a prática deste Governo.
2011 é um ano em que parece que tudo nos foge entre os dedos como se fosse areia. É um ano de derrota, de decepção, de frustração, de depressão. Mas também é o ano em que o país saiu à rua em manifestações imensas, é o ano da Greve Geral que foi o primeiro sinal de que não aceitaremos o “destino” que nos apresentam como inevitável.
Lead:
Estado Social, Segurança Social, saúde e escola públicas, protecção social, regulação laboral, cultura, igualdade, liberdade? Coisas do passado que só se manterão no futuro se disputarmos o presente.
Mas desta vez, as certezas sobre o que está para chegar logo no primeiro mês do ano, a par da turbulência que antecipa 2012 como um ano marcante para a vida de todos nós, a dos estados europeus e a do euro, há que anunciar bem alto: estamos prontos.
Estamos prontos para esse combate. Podemos já nomear alguns dos palcos onde a política como forma de resistência, de iniciativa, de confronto, de acção conjunta, de rua, tem agora e terá lugar em 2012:
Os movimentos Precári@s-Inflexíveis, Ferve e Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual já anunciaram que estão prestes a entregar as 35 mil assinaturas que levarão ao parlamento uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos, com a forma de uma Lei Contra a Precariedade.
A Iniciativa da Auditoria Cidadã à Dívida pública está lançada e em breve começará a tornar o debate político sobre a crise e a dívida pública portuguesa.
Para dia 21 de Janeiro está já marcado um novo protesto que ocupará as ruas e tornará mais ampla e consequente a indignação que tem vindo a crescer e a ganhar corpo no movimento que organizou o último 15 de Outubro.
Outros exemplos poderiam ser evocados e, espero, outros mais chegarão com o novo ano. Essas serão as marcas que daqui a um ano indicarão os sinais do uso e do tempo no nosso pequeno livrinho preto com a agenda de 2012. A luta promete e 2012 terá que ficar na história como o ano em que vivemos o nosso “destino” às avessas e a democracia se reconstrói em cada nova forma de luta e na rua.
Luís Gomes
Salvaterra de Magos, 04 de Janeiro de 2012
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