Acreditem que são sincerosos votos de um bom ano de 2012 para todos. Mas todos sabemos que a realidade se sobrepõe à utoia ou ao cliché e que o próximo ano será ainda pior do que o que agora finda, se é que isso é possível.
Ninguém tem dúvidas de que Portugal é um país com escassos recursos, ainda assim com assinaláveis quantidades de ouro e mirra. E que o primeiro é sempre para os mesmos, ou seja, para os corruptos e gananciosos, especuladores e os incompetentes, em suma, para os grandes responsáveis pela situação que hoje vivemos e que é fruto da negligência de quem negociou a nossa adesão á CEE permitindo com isso a morte do nosso sistema produtivo, nomeadamente a agricultura, as pescas e as indústrias, dos que ordenaram a construção de obras faraónicas como o Centro Cultural d Belém, a Expo'98, os 10 estádios de futebol para o Euro'2004, a nova travessia sobre o Tejo, a teia de auto-estradas, etc., quando o país não as podia suportar a curto-prazo e ainda aqueles que participaram na gestão ruinosa de várias empresas, em especial na banca, como foi o caso do BPN (desfalque nunca inferior a 5 mil milhões de euros e que está a ser pago pelos contribuintes), sem esquecer os terroristas que fomentaram guerras inúteis como foi o caso do iraque, onde as vítimas mortais civis já ascendem a centena de milhar e com tendência para aumentar. A existir justiça há muito que Bush, Blair, Durão e Aznar deveriam estar presos
Apenas os próprios e os governantes é que recusam a ver esta realidade. Afinal, é muito mais fácil acusar os trabalhadores, os pensionistas e todos os que têm direito à mirra, pelos males que enfermam o país, pois segundo estes iluminados vivemos acima das nossas possibilidades.
Será que ter uma casa com um mínimo de dignidade, possuir um carro e por vezes desfrutar de uma semana de férias é viver acima das possibilidades? Será que o padrão de viver dentro das possibilidades em Portugal é morar numa tenda debaixo da ponte, andar a pé e descalço e ir ao supermercado dos caixotes do lixo ou esperar pela caridadezinha, tão em voga ultimamente?
Não foi esta Europa que nos prometeram em 1986. Prometeram-nos uma Europa de progresso, de solidariedade, de justiça e de coesão social. A que nos estão a servir é uma Europa da disciplina orçamental a qualquer preço, das sanções e da austeridade, onde uem dita as leis é híbrido Merkozy e os restantes obdecem. O caso da Alemanha é ainda mais gritante, em especial para com a miséria que impõe ao povo grego. Já passou mais de meio século desde o fim da 2ª guerra mundial e até hoje os alemães ainda não pagaram:
- Uma dívida der 80 milhões de marcos alemães por indemnizações que ficou por pagar da 1ª guerra mundial;
- Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que chegam hoje a quase 600 milhões de dólares;
- Os empréstimos em obrigações que contraiu o III Reich em nome da Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o período de ocupação;
- As reparações que a Alemanha deve à Grécia pelas confiscações, perseguições, execuções e destruições de povoações inteiras, estradas, pontes, linhas férreas, portos e produtos do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais aliados, ascede a 7,1 mil milhões de dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota;
- As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38.960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração, 600 mil mortos de fome, etc.)
Que moral é que a toda poderosa senhora da Europa tem para impor tamanhos sacrifícios a um povo que já foi massacrado pelos seus antepassados? Mudou apenas a força das armas pelo poder do grande capital financeiro.
Umas vezes obrigados pelos PEC's, outras a mandado da troika, assim se vão arranjando argumentos para as imoralidades praticadas pelos nossos governantes como são os roubos nos saláriose subsídios de Natal e de férias, os brutais aumentos nas taxas moderadoras, as privatizações de monopólios naturais a preços de saldo, os cortes cegos no Ensino e Saúde públicos, no Poder local, etc. Provavelmente dentro de alguns anos com estas medidas - que alguns chamam de equidade mas só se for de acesso generalizado à pobreza - vamos ter o problema do défice público e da dívida soberana resolvido, só que nesse dia já teremos perdido aquilo que uma sociedade tem de melhor que são as pessoas. Durante muitos anos fizeram-se acreditar que a culpa do nosso atras se devia á baixa formação académica dos portugueses, hoje quando temos mais de 60 mil licenciados no desemprego, o caminho que lhes é apontado pelo próprio primero-ministro é a emigração, a exportação a custo zero da inteligência que o país formou com os nossos impostos e que vão enriquecer economias que não investiram um cêntimo na sua qualificação.
Mas não se pense que é por acaso que se aponta este caminho, os governantes sabem perfeitamente que com a emigração dos nossos licenciados libertam-se da responsabilidade de lhes criar empregabilidade e uma vida digna, mas acima de tudo libertam-se da massa crítica que estes portugueses representam. Afinal, é bem mais fácil vergar e enganar os menos instruídos.
A pretexto da crise são hoje feitas autênticas barbáries junto dos mais pobres e desfavorecidos porque o grande capital financeiro é introcável. Em compensação são retirados aos trabalhadores vários direitos, alguns deles conquistados com sangue, suor e lágrimas em pleno século XIX, como é o caso das 8 horas diárias de trabalho, alcançadas pelos operários de Chicago nos Estados Unidos em 1886, o que viria a estar na origem do 1º de Maio como o dia do Trabalhador, feriado festejado praticamente em todo o mundo. Será que este governo também vai ter coragem de tentar acabar com o festejo desta efeméride, representativa de um enorme avanço civilizacional? A meia hora de trabalho diário de borla indica sim, sem esquecer os, para já, quatro feriados que vão tentar suprimir, mais os três dias de férias que os trabalhadores assíduos recebem como bónus. Tudo isto somado dá 23 dias de trabalho gratuito! Saliente-se ainda a redução e dificuldade de acesso ao subsídio de desemprego ou do RSI que para alguns governantes é uma forma de acumular riqueza. Perante tudo isto não é difícil concluir que o próprio regime democrático que está em causa.
Os eleitos do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos
30 de Dezembro de 2011
João Abrantes
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