sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A PROPOSTA DE LEI Nº 104/XII


Chamo à atenção da Câmara Municipal para a recente apresentação na Assembleia da República da Proposta de Lei n.º 104/XII, em que governo propõe uma revogação de partes substanciais da Lei 169/99, sobre o Regime Jurídico das Autarquias Locais.
A proposta governamental assenta numa orientação centralizadora e presidencialista, reduzindo as competências dos órgãos deliberativos das autarquias locais, designadamente pondo fim à figura da Moção de Censura. Dá ainda especial enfoque às Áreas Metropolitanas e às Comunidades Intermunicipais, identificadas como entidades intermunicipais.
Este diploma já mereceu a reprovação unânime de todas as forças políticas, no âmbito da Associação Nacional de Municípios.
Entre outros aspetos gravosos para a democracia local e regional, a proposta de Lei propõe-se acabar com a Assembleia Intermunicipal --- ela própria já eleita indiretamente pelas AM´s, tendo todavia uma expressão alargada e diferenciada em função da população de cada concelho. Será substituída por um Conselho Intermunicipal pequeno, composto apenas pelos Presidentes de Câmara, e sem ter em conta as diferenças populacionais entre os municípios.
Por seu turno, o novo órgão executivo – a chamada comissão executiva intermunicipal, muito restrita - sairá de um colégio eleitoral a constituir de entre as diversas assembleias municipais. Um colégio eleitoral que se extingue após a eleição, não havendo responsabilidade do Secretário Executivo perante o respetivo eleitorado.
No entanto, o poder de apresentação de listas para a Comissão Executiva Intermunicipal é exclusivo do presidente da assembleia municipal com maior número de mandatos atribuídos ao mesmo partido --- ou seja, ficará extremamente limitado, não se permitindo o surgimento de alternativas.
A proposta de Lei do governo pretende transferir para as entidades intermunicipais os poderes tributários dos municípios. O que viola o artigo 254º, nº2, da Constituição da República Portuguesa e retira aos que foram eleitos diretamente pelas populações a competência para a definição da política fiscal municipal.
Segundo a ANMP, “a sujeição a um parecer de uma entidade terceira relativamente ao exercício de uma competência própria constitui uma violação dos princípios constitucionais de descentralização, da autonomia administrativa, patrimonial e financeira dos municípios”.
Um dos argumentos mais frequentemente esgrimidos contra a regionalização --- um imperativo constitucional, recorde-se – é o de que criaria mais despesa, com cargos intermédios. Agora, é o próprio governo a propor uma choruda remuneração mensal superior a 4 mil euros para o primeiro - secretário (executivo) das Comunidades Intermunicipais. Um lugar que parece talhado à medida de alguns presidentes de câmara.
Mas o governo e em, particular, o ministro Relvas, inspirador desta proposta de lei, continuam a fugir da democracia e da responsabilidade que esta acarreta, como o diabo da cruz. A ANMP defende e bem que as novas entidades intermunicipais “deveriam legitimar-se em sufrágio direto e universal” --- o que não é o caso. Ou seja, defende a ANMP que deveria concretizar-se a regionalização.
Convido a restante Câmara e os autarcas do nosso concelho a debruçarem-se atentamente sobre este documento, que agrava o esvaziamento da expressão democrática local e encerra profundas implicações na essência do poder local.

A ANMP vai mais longe e considera, inclusivamente, não ser “com as soluções apresentadas --- amiúde feridas de inconstitucionalidade --- que se cumprem os princípios para o qual o poder local foi instituído.”
Dada a importância e o alcance da matéria em causa, seria conveniente que este debate fosse público e alargado, envolvendo os partidos, os autarcas e, de uma maneira geral, todos os interessados.
Entretanto, o Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia da República o projeto de Lei nº317/XII, reforçando o papel dos órgãos deliberativos das autarquias locais e os mecanismos de Democracia Participativa. Tal como na exigência de referendos para a reforma territorial autárquica, o Bloco de Esquerda novamente defende a Democracia Local.

Luís Gomes

 Salvaterra de Magos, 05 de Dezembro de 2012

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