sábado, 20 de abril de 2013

Comissões instaladoras das freguesias


O especialista em direito autárquico Cândido de Oliveira criticou o facto de não terem sido criadas comissões instaladoras para a grande maioria das novas freguesias, considerando que isto impede um voto verdadeiramente esclarecido dos cidadãos.

António Cândido de Oliveira falava durante a apresentação do livro "A Reforma do Estado e a Freguesia", lançado numa colaboração entre a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) e o Núcleo de Estudos de Direito das Autarquias Locais (NEDAL) da Universidade do Minho, que contém os textos apresentados na conferência com o mesmo nome realizada no final e outubro passado em Aveiro, assim como outros trabalhos acerca das freguesias, de autores como Jorge Miranda e Romero de Magalhães.

De acordo com o especialista, as próximas "eleições autárquicas [terão] problemas jurídicos que não deveriam existir". "Vamos votar para freguesias, para um território onde existem freguesias que estão extintas, mas que vão funcionar normalmente até ao dia das eleições. E as freguesias novas não existem, estão no papel", disse, considerando que "isto não respeita o direito dos cidadãos a votar em consciência".

O docente considerou "inacreditável que a grande maioria das mil e tal freguesias que foram criadas não tenha comissões instaladoras" porque "uma freguesia não nasce com órgãos eleitos".

"O que é a instalação de uma freguesia? É determinar sem dúvida o seu território e população, mas há muito mais coisas. É preciso saber, por exemplo, o património que tem, as dívidas, os contratos, as receitas e as despesas, o contencioso que porventura há, o pessoal que há. (...) Como é que se pode ter um voto esclarecido, lúcido, sem termos um conhecimento concreto da freguesia? Tenho muita dificuldade em perceber isso", acrescentou.

Segundo considerou, a reforma administrativa foi feita a correr, mas, mesmo tendo sido feita a correr, "poderia ter sido feita com mais cuidado". "Mas como não houve cuidado, vai ser necessário reformar a reforma", defendeu, realçando que "ao fazer-se um corte no número de freguesias sem ter em conta o número de freguesias por município, os resultados foram maus", porque "não é a mesma coisa" um município ter 80 ou apenas seis freguesias.
Outra dúvida levantada pelo docente está relacionada com a aplicação da lei de limitação dos mandatos aos presidentes das novas juntas.

"Se vingar a interpretação que diz que o mandato proibido se refere à própria autarquia, vamos ter uma possibilidade enorme de presidentes de junta [com três ou mais mandatos] que vão poder candidatar-se de novo, porque já não o estão a fazer à sua própria freguesia, mas àquela que resultou da reforma. Já não é a mesma freguesia", disse.

Isto cria, na sua opinião, uma certa desigualdade para com autarcas na mesma situação mas que não poderão recandidatar-se porque a sua junta de freguesia não foi alterada.

Armando Vieira, presidente da ANAFRE, realçou que a associação defendeu há cerca de um ano que teria sido melhor suspender este processo "e retomá-lo depois das autárquicas, para que não haja anomalias".

"É lamentável que tenhamos chegado a este tempo, em que há dúvidas sobre uma lei e que vai criar muitos problemas, sendo nosso entendimento que a Assembleia da República devia atempadamente ter corrigido a interpretação desta lei para que não surgissem dúvidas. Não é uma questão que tenha de ser esclarecida pelo Tribunal Constitucional. Esta é uma lei da AR e deveria ter sido esclarecida nesta sede", afirmou Armando Vieira.

Fonte: Agência LUSA

Termino por afirmar que o Bloco de Esquerda tudo fez para o esclarecimento e clareza democrática das respetivas escolhas que os nossos tempos exigem.

Luís Gomes
 Salvaterra de Magos, 17 de Abril de 2013

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