Um actor genial, um declamador vivo e consciente do que é a poesia. E uma pessoa. Tridimensional. Conhecedor dos comportamentos e das expressões. Mário Viegas morreu há dez anos, a 1 de Abril.
“Nunca fui um homossexual porco. Nem chulo. Mas com os meus olhos castanhos, caracóis, 26 e 27 anos, bigode latino-americano, fui um êxito sexual”. Assim falava o actor, encenador e declamador Mário Viegas, que, se fosse vivo, faria hoje 60 anos.
Nasceu em Santarém a 10 de Novembro de 1948, às 23.30, meia hora antes do Dia de S. Martinho – escreveu o próprio na folha de sala da peça Europa Não! Portugal Nunca! (1995).
Quando se recorda Mário Viegas é normal colar-lhe o título de um dos maiores actores portugueses do século XX. Raramente a sua sexualidade ganha dignidade como tema. No entanto, ele nunca se escondeu. Era, aliás, pródigo em afirmar-se.
Na sua Auto-photo Biografia, que escreveu em 1995 e da qual fez uma edição de autor de poucos exemplares, constam, além da frase que abre este texto, outras confissões íntimas. Sobre a estada na Dinamarca, onde viveu entre Maio e Setembro de 1975, escreve: “Fui para a Dinamarca meses, sozinho, ter relações com meia Copenhaga. Apaixonei-me por um turista japonês e vivemos três semanas de sonho. Aliás, perdi a virgindade homossexual no Japão, em Osaka, com um lindo moço”.
Polemista até à medula, acabaria por protagonizar, em 1995, um episódio de antologia.
Em Setembro desse ano, o deputado do Partido Socialista Carlos Candal publica o famoso Breve Manifesto Anti-Portas em Português Suave, onde insinua que Paulo Portas, então candidato pelo CDS às eleições legislativas, é homossexual. Mário Viegas aparece então numa conferência de imprensa da UDP, partido pelo qual se candidataria mais tarde à Presidência da República, e afirma: “Sou homossexual assumido, estou na política e a UDP nunca me colocou qualquer entrave”. Classifica como “nojento” o manifesto de Candal, porque “ofende milhões de homossexuais que sofrem perseguições”.
Quem nos dera ter esta coragem, numa vida assim, tão controvérsia mas tão vivida, recordaremos sempre Mário Viegas, pela nossa imensa perda, para o povo português e para a cultura portuguesa.
Luís Gomes
Salvaterra de Magos, 10 de Novembro de 2010
“Nunca fui um homossexual porco. Nem chulo. Mas com os meus olhos castanhos, caracóis, 26 e 27 anos, bigode latino-americano, fui um êxito sexual”. Assim falava o actor, encenador e declamador Mário Viegas, que, se fosse vivo, faria hoje 60 anos.
Nasceu em Santarém a 10 de Novembro de 1948, às 23.30, meia hora antes do Dia de S. Martinho – escreveu o próprio na folha de sala da peça Europa Não! Portugal Nunca! (1995).
Quando se recorda Mário Viegas é normal colar-lhe o título de um dos maiores actores portugueses do século XX. Raramente a sua sexualidade ganha dignidade como tema. No entanto, ele nunca se escondeu. Era, aliás, pródigo em afirmar-se.
Na sua Auto-photo Biografia, que escreveu em 1995 e da qual fez uma edição de autor de poucos exemplares, constam, além da frase que abre este texto, outras confissões íntimas. Sobre a estada na Dinamarca, onde viveu entre Maio e Setembro de 1975, escreve: “Fui para a Dinamarca meses, sozinho, ter relações com meia Copenhaga. Apaixonei-me por um turista japonês e vivemos três semanas de sonho. Aliás, perdi a virgindade homossexual no Japão, em Osaka, com um lindo moço”.
Polemista até à medula, acabaria por protagonizar, em 1995, um episódio de antologia.
Em Setembro desse ano, o deputado do Partido Socialista Carlos Candal publica o famoso Breve Manifesto Anti-Portas em Português Suave, onde insinua que Paulo Portas, então candidato pelo CDS às eleições legislativas, é homossexual. Mário Viegas aparece então numa conferência de imprensa da UDP, partido pelo qual se candidataria mais tarde à Presidência da República, e afirma: “Sou homossexual assumido, estou na política e a UDP nunca me colocou qualquer entrave”. Classifica como “nojento” o manifesto de Candal, porque “ofende milhões de homossexuais que sofrem perseguições”.
Quem nos dera ter esta coragem, numa vida assim, tão controvérsia mas tão vivida, recordaremos sempre Mário Viegas, pela nossa imensa perda, para o povo português e para a cultura portuguesa.
Luís Gomes
Salvaterra de Magos, 10 de Novembro de 2010
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