Dia 15 de Setembro é um passo que se exige de concretização, abertura para escutar e conversar e muita perseverança.
A manifestação deixa à vista uma generalizada compreensão do resultado da política do memorando. A troika e a direita não têm outro plano: a destruição do contrato social, do salário e dos serviços públicos, é o único caminho que concebem. Por isso estas manifestações identificam tão espontaneamente o “Que se lixe a troika” com o “Passos rua!”. O governo perdeu o consenso. Que Seguro registe: não há conciliação possível entre a aplicação do memorando – a que o PS, mesmo votando contra o orçamento, continua amarrado - e qualquer rumo aceitável para o povo.
Esta manifestação não é um “grito de alma”. Ela assinala uma ampla disponibilidade para a luta, confirmando múltiplos sinais, localizados ou sectoriais (como a greve dos médicos), ao longo das últimas semanas. Mas quem luta quer resultados – e essa é uma interpelação a quem responde pelo movimento sindical e pela esquerda.
Dito isto, importa desafiar o PS a posicionar-se. Na verdade, por detrás da retórica agressiva, não há um único sinal de rutura com o memorando de entendimento, apenas uma rejeição – que todos apoiamos – da TSU. Nessas condições, é igualmente ilusório pensar que estão criadas as condições para um Governo de esquerda. Nós precisamos de uma alternativa – e depressa, tal o ritmo de destruição do país. Mas essa alternativa tem de ser um puro início e jamais pode ser um ramo outro, ainda que superficialmente mais benévolo, da árvore podre.
Na Praça de Espanha, o coletivo organizador apelou aos sindicatos para a marcação, no curto prazo, de uma greve geral. Têm razão: a greve geral é a única forma de combate conjunto ao governo da troika que pode desenvolver os patamares de mobilização ontem alcançados. Essa greve deve ser uma experiência nova para o movimento sindical, partindo da capacidade deindignação, da ocupação do espaço público e da criatividade popular demonstrada. Paralisar o país, desde ontem, pode significar outra coisa.
Esta manifestação é a primeira de muitas e a próxima greve geral também terá outras pela frente. Ora, esse combate prolongado, para ter convergência, precisa de objetivos claros. É a isso que o Bloco chama um governo de esquerda: um campo político de rutura com a troika e com a austeridade, um programa essencial para responder ao colapso do emprego (anulação da dívida ilegítima e renegociação; taxar o capital; controlo público da banca). A manifestação de ontem diz-nos que há um povo que já arrancou. E pode ir por aí.
Luís Gomes
Salvaterra de Magos, 19 de Setembro de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário