Intervenção dos eleitos do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal comemorativa dos 40 anos do 25 Abril
Discurso no 25 de
Abril, na Sessão Solene da Assembleia Municipal Extraordinária de Salvaterra de
Magos
Sr. Presidente da Assembleia
Municipal de Salvaterra de Magos
Sr. Presidente da Câmara
Municipal de Salvaterra de Magos
Senhores Vereadores
Senhores Deputados
municipais
Senhoras e senhores
autarcas
Autoridades Civis e
militares
Senhoras e senhores
convidados
A toda a população
Comunicação social
O levantamento militar
do dia 25 de Abril de 1974 derrubou, num só dia, o regime político que vigorava
em Portugal desde 1926, sem grande resistência das forças leais ao governo, que
cederam perante o movimento popular que rapidamente apoiou os militares. A
revolução dos cravos originou o levantamento conduzido pelos oficiais
intermédios da hierarquia militar (o MFA), na sua maior parte capitães que
tinham participado na Guerra Colonial. Esta revolução devolveu a liberdade ao
povo português.
Saúdo os que nunca
desistiram de lutar por um país livre, durante os 48 anos da ditadura cujo fim
hoje celebramos. Foram homens e mulheres das mais variadas ideias e tendências
que, em muitos casos, pagaram com a própria vida a sua entrega à luta pela
democracia, pela liberdade, pelo progresso, pelo fim da guerra colonial.
A propósito, evoco
também aqui a luta dos movimentos de libertação das colónias, tantas vezes
esquecidos. Ao defenderem a independência dos seus países, contribuíram
decisivamente para a queda do regime que oprimia o povo português.
Saúdo, muito em
particular o movimento dos capitães, decisivo no 25 de Abril de 74. No momento
e na hora certa --- com coragem e generosidade --- esses militares
desobedeceram à hierarquia militar fiel ao regime fascista, desarticularam o aparelho
repressivo e abriram as portas a um pujante movimento popular.
A democracia deve
muito a estes militares, como Salgueiro Maia, a quem um primeiro-ministro, hoje
presidente da República, viria depois a recusar uma pensão. Mas deve também
muito ao povo que, em 25 de Abril, desobedeceu à ordem para se fechar em casa e
que, juntando-se aos militares, foi decisivo para transformar um golpe militar
numa verdadeira revolução.
Saúdo também os
munícipes que participaram e contribuíram para este dia tão importante para
Portugal.
José Saramago escreveu
que “nenhum dia é festivo por ter já nascido assim: seria igualzinho aos outros
se não fôssemos nós a fazê-lo diferente”.
O dia 25 de Abril de
1974 não nasceu “inteiro e limpo”, para usar o verso de Sophia: foram os militares
do MFA e o povo que a tornaram inteiro e limpo, quando pegaram em armas,
ocuparam as ruas, varreram a velha opressão, derrubaram o regime.
Neste 40º aniversário
do 25 de Abril, celebramos também e de uma forma muito especial os 40 anos do poder
local democrático. A nossa comunidade assume democraticamente o poder local no
concelho e nas freguesias, elege os seus representantes, escolhe quem dirige as
autarquias e deve ser a sua voz. Antes, não era assim.
O 25 de Abril
inscreve-se perfeitamente na lapidar frase de Saramago: é válida para todos os
tempos, mesmo para os tempos actuais. Se, há 40 anos, jovens militares e o povo
fizeram um dia inteiro e limpo --- vamos ter de fazer diferentes, também
inteiros e limpos, os novos dias ainda por viver.
Hoje, apesar em
democracia formal, vivemos sob a ditadura dos credores e da austeridade. O
regime austeritário combina a austeridade
com o autoritarismo, corrói os fundamentos da sociedade e do estado democrático.
Salários, pensões,
serviço nacional de saúde, escola pública, tribunais, finanças, direitos
laborais, empresas públicas, democracia local, tudo --- mas tudo! ---- o que
são conquistas de Abril está na mira dos homens sem rosto da finança e de um
governo mentiroso, servil, sem política própria, sem rumo, nem dignidade.
Diziam-nos que a
austeridade serviria para reduzir o défice e a dívida, para recuperar a
economia e o emprego. Se eram esses os objectivos, falharam: a dívida pública é
a maior de sempre, vamos em 3 anos de recessão, aumentou o desemprego, emigram
centenas de milhares de portugueses, a oferta de serviços públicos recuou como
nunca. O país está mais pobre e continua a afundar-se, sem perspectiva de recuperação.
As notícias sobre a
recuperação não passam de inconsistente e efémera fumaça pré-eleitoral. Rapidamente
levarão o destino das promessas de que não haveria cortes de salários, nem
aumentos de impostos.
Hoje, temos pela
frente o nosso próprio e grande desafio: reestruturar a dívida externa e
recusar mais austeridade, mesmo depois da saída da próxima tróika, quando a
austeridade passar a ser ditada por um Tratado Orçamental Europeu, nunca referendado
pelo povo português. Nunca haverá saídas limpas pelas mãos dos responsáveis
pelo resgate financeiro, nem comprometidas com o Tratado Orçamental.
O respeito pelos que
lutaram anos a fio pelo generoso movimento dos capitães, pelo impetuoso
movimento popular que arrancou conquistas avançadas --- o respeito, enfim por
nós próprios, como povo --- impõe-nos hoje, tal como em 25 de Abril, novas
desobediências.
Nos dias festivos que
nos falta fazer haverá respeito por quem trabalha, haverá salários e reformas
justas. Haverá serviços públicos capazes, na saúde, na educação, nos
transportes. Não acabarão com municípios, nem freguesias, contra a vontade das
populações. Nos dias festivos que nos falta fazer respeitar-se-ão, antes de
mais, os contratos com o povo português.
O exercício do voto
pode contribuir para tornar mais próximos os dias em que, por vontade do povo, faremos
novos dias festivos, porque inteiros e limpos.
Não podemos
desperdiçar a “arma” do voto que tanto custou a ganhar, ficando em casa nas
próximas eleições.
Há escolhas por que todos
e todas são responsáveis: austeridade ou salários e pensões dignos; serviços
públicos ou negócios privados; investimento e emprego ou alimentar uma dívida
impagável; desenvolvimento ou recessão; democracia ou ditadura dos credores.
Nenhum de nós pode
fugir às escolhas difíceis que nos são impostas.
Em nome da liberdade
que hoje comemoramos, é hora de juntar vozes, vontades e lutas.
Viva o 25 de Abril!
Viva a Liberdade!
Viva o Concelho de
Salvaterra de Magos!
Viva Portugal!
Os eleitos do Bloco de
Esquerda na Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos

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